Vamos falar sobre a Distância entre a vida que vivemos e a vida que queremos

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Começo por dizer que a foto que aqui está em destaque como capa deste artigo, foi criada usando inteligência artificial. Pedi simplesmente “gera uma imagem dividida em duas partes, em que numa a pessoa apareça num cenário negativo e pesado, e noutra positivo e leve” e curiosamente foram geradas várias fotos e todas elas mostraram o cenário negativo escuro, com caixas, papéis, uma linguagem corporal triste, fechada em 4 paredes ou no meio da cidade e confusão, e o cenário positivo claro, com natureza e luz e linguagem corporal de liberdade. Esta informação fica sujeita à tua interpretação mas acho que podemos concluir que, até a inteligência artificial, sem mais nenhum dado, nos diz que a natureza, amplitude e a luz é o que nos faz bem.

Vamos então falar sobre a distância entre a vida que vivemos e a vida que realmente queremos. E não, não estou a falar de ideologias ou ambições com base em superficialidade ou baseada no aliciamento associado à ostentação que vemos e absorvemos diariamente, pelo quão sobrecarregados somos pelo capitalismo, excesso, comparação, marketing, consumismo e cimento. O que vemos, ouvimos e lemos tem um impacto enorme na programação não só do nosso cérebro, mas no nosso corpo, estilo de vida, e naquilo que achamos que queremos. Há uma linha, muito ténue, entre o que às vezes achas que queres e o que realmente precisas e desejas. Impõe limites àquilo a que te submetes e principalmente, como diz Manuel Clemente, tenta não te apertares onde não cabes. Não mascares o bonito que és nem vivas dessa forma falsa sem te aperceberes. Se te apercebes agora que o estás a fazer, não deprimas nem te sintas mal, não és má pessoa, és vitima do sistema, e sobrevivente!

Estou a falar de sermos mais felizes… daqueles objectivos que estão no nosso core e vêm por bem (mesmo que ainda não saibas realmente ainda quais são). Sabes que te sentes drenad@, cansad@, frustrad@, impaciente, triste, apertad@, dormente, em piloto automático, um peão do que te rodeia, e que não é esta a vida que queres ou gostarias, nem a que o teu corpo chama.. e é importante saberes que, antes de mais, no meio desta tormenta toda, deves cuidar da tua saúde mental para teres ferramentas para gerir tudo isto (porque não é fácil!), e para também saberes e sentires que há esperança. 

Felizmente (e infelizmente, dependendo do ângulo) vivemos numa parte do mundo desenvolvida o suficiente para termos muito poder de escolha… às vezes todo esse poder traz confusão e o sistema desenvolvido às vezes enterra-te ainda mais do que se vivesses com menos. Como menos é mais e eu sou aquariana de signo e perita em QUERER simplificar a vida, questiono-me muito, a toda a hora, sobre tudo. E é precisamente isso que quero trazer ao blog e aos teus olhos hoje.

Já passei grande parte da minha vida um pouco em guerra, perdida e a mudar de trabalho, de relações, de visual, de casa, etc… e sempre a pensar na próxima ideia. Mas se tivesse de dizer, das fases todas até hoje, aquela em que me senti mais próxima de mim e daquilo que amo, foi na altura de covid e um pouco a seguir… não vou mentir, foi preciso ir ao fundo do poço, sentir me presa e sem saída, para encarar de frente todas as minhas merdas e isso passou por muito choro, frustração, conflitos familiares, falta de apetite, entre outros… mas lá fui eu por aí fora, nessa montanha de emoções e chapadas de realidade (da minha realidade), para começar a dar pequenos passos para me encontrar um pouco…

E há momentos na nossa vida que exigem mesmo mudanças radicais. E as crises são óptimos momentos para que a verdade venha ao de cima.

Os chineses usam dois símbolos para escrever a palavra ‘crise’. Um representa o perigo; o outro, a oportunidade.

John F. Kennedy

Entretanto saí de casa e fui viver com uma grande amiga, a Joana, que conheci num circulo de mulheres ainda bem antes do covid, e com quem me identifiquei e senti amparo, apoio, amor… nela me vi a mim também. E uma coisa que seria ficar a tomar conta da cadela Sofi durante uns dias, tornou-se em 2 anos de companheirismo de casa que foram absolutamente cruciais para o meu crescimento numa altura tão sensível mas tão conectada. A ela devo tudo, pelo quanto me ajudou a todos os níveis e pelo mulherão que ela é para si e para o mundo.

Desde terminar uma relação de muitos anos, despir-me de crenças, hábitos e da pessoa que era, passar tempo sozinha, meditar muito, plantar a lua (nunca estive tão conectada com o meu sangue e o meu ciclo menstrual), ouvir e conversar abertamente com uma irmã, dançar sozinha com música que nutre, escrever, cuidar de uma cadela que precisava de toda a nossa ajuda, carinho e paciência, a cozinhar comida de verdade e tomar tempo para me aperceber de muitas coisas… nunca estive sozinha assim e ao mesmo tempo sozinha com alguém e tão acompanhada. Fiz rastas no meu cabelo como comprometimento para com a minha mudança e enraizamento a mim. Serviu o seu propósito.

Manuel Clemente, no seu livro Sem Ti Não Vais a Lado Nenhum diz “Nada se constrói sem que antes exista algum nível de destruição. O cultivo de um terreno exige uma limpeza prévia, para que se garantam as condições mais propícias ao crescimento de algo novo. Antes de trocarmos os lençóis da cama, primeiro precisamos de nos desfazer dos que lá estão. Hábitos mais saudáveis no nosso dia a dia também se instalam graças ao sacrifício daqueles que já não servem. Todos os dias, a cada minuto, morrem milhões de células no nosso corpo para dar lugar a outras, e assim que permanecemos vivos e, se por fortuna for esse nosso caso, saudáveis. Para que possamos seguir em frente, além do tempo, é inevitável que algo mais fique para trás.”

Tomemos o ciclo da mulher como exemplo! E o ciclo da vida mesmo…

Entretanto a vida deu milhões de voltas, como seria de esperar, mas ainda bem. Já voltei a velhos hábitos, já tomei consciência deles e reverti-os, já me perdi novamente por entre empregos e relações que me prometiam o mundo, mas voltei a encontrar-me graças ao quão presente em mim ainda estava essa fase em casa da Joana (e muita terapia também!!)… porque foi onde tudo começou e dela não me esqueço… e precisamente por tê-la sempre comigo como parte de mim, e por ela me ter aumentado a consciência de quem sou, é que sei que por muitos caminhos por onde tenha passado e ainda esteja a passar, sei para onde quero ir. E é isso: mesmo depois de leres esta minha partilha neste blog, não vais ter as respostas e direções e decisões e mudanças todas a postos e ter amanhã a vida que exactamente queres… mas vais começar a entender que por muito que ainda passes, sabes para onde queres ir e vais trabalhar nesse sentido. Questionar tudo, pôr em perspectiva, pensar diferente… 

Questionar

Porquê que trabalhamos 90 e descansamos 10? Porquê que não é 50/50 no máximo? Quando é que dissemos sim a esta vida de sacrifício constante? Porquê que somos todos carneiros e trabalhamos para pagar e ter coisas, e viver pouco? Porquê que continuamos esta corrente e nos arrependemos sempre das coisas que deixamos por fazer? Porquê que somos tantos neste mundo, muitos mais do que aqueles que “mandam” em nós, e mesmo assim não nos revoltamos? Porquê que continuamos a deixar que nos prendam e ceguem assim?…

Recentemente o meu pai veio para a reforma e sente-se confuso e diz que é agridoce. Porquê? Não esperou por isto a vida toda? E porquê que esperou por isto a vida toda? E depois de tanto tempo a ser massacrado formatado em algo, de repente é tão estranho que até é triste e sente falta? O quão fucked up tens de estar para preferires trabalhar no duro sem estar com a tua família e sem teres tempo para saber o que queres ou gostas de verdade, do que vir embora e descobrir e descansar? Ele já nem sabe descansar… não sabe estar quieto… não sabe saborear. É isto que o sistema nos tira: a vida tal como ela é. A vida que nós dá vida. Preferimos a vida que nos rouba tudo, até o cérebro… E não quereremos passar daí, não é normal. E só te digo que não é normal, porque não é natural. 

A minha mãe tinha o sonho de ser assistente de bordo e o sonho de fazer voluntariado em África… optou por casar e ter filhos e… nunca mais. Ser assistente de bordo já não está ao alcance, infelizmente, tal como tantos outros sonhos nossos que ficam pelo caminho por ser tarde demais ou porque simplesmente não esteve ao alcance das capacidades e oportunidades… e há que ter alguma humildade e também aceitar que, se não se proporcionou por muita luta que tenhamos travado, é porque talvez não era por ali o caminho. A minha mãe diz que quando se reformar talvez viaje e aplique o seu coração e a sua experiência em enfermagem em países mais necessitados. E já me deu esse conselho quando eu quis despedir-me do meu trabalho e aceitar ir fazer uma missão de voluntariado de proteção dos oceanos numa embarcação. Algo me diz que a minha mãe quando realmente chegar à reforma, poderá nunca chegar a fazê-lo. Por uma razão ou por outra, mas sempre adiando… Dou-lhe força e relembro-a do seu sonho, contudo, eu penso pra mim “eu vou esperar até quase aos 70 anos para realizar os meus sonhos!? Chegarei até lá sequer?”… são legítimas e válidas as escolhas que cada um toma. A minha mãe tomou as melhores decisões que conseguiu com base no que tinha no momento, na fase em que estava e nas outras coisas que queria, e está tudo bem. Tal como eu recusei a missão, depois de chorar muito, por segurança e por medo de instabilidade. Mas imprimi que era um “até já” e fiz o melhor que pude naquele momento. A verdade é que me arrependo, claro. Mas entretanto juntei dinheiro, conheci o homem da minha vida, que quem sabe, provavelmente não se teria cruzado comigo, pois eu não estaria cá.

São várias as pessoas que conheço, que colocaram os seus sonhos e objectivos em standby (algumas permanentemente mesmo…) por medo de arriscar ou porque não seria o tradicional a fazer, ou por outra razão qualquer… E com os anos, a tendência é ficarem amarguradas porque “o tempo entretanto passou” e ficam a ver os outros realizar os sonhos deles. Ás vezes são as primeiras a “dar na cabeça” ou a chamar de “malucos”, e por dentro só gritam “leva-me contigo”. Hoje em dia, na nossa geração, já existem cada vez mais pessoas com outra forma de fazer a vida e ainda bem. Há menos prisão a empregos, hipotecas, posses… e mais viagens, trabalho por conta própria ou repartido, e liberdade na prática… Admiro-as e delas tiro inspiração, não para necessariamente viver igual, mas para voar e ser eu mesma.

Responde a estas perguntas comigo…

  • Como me sinto na maior parte dos meus dias?
  • Estou cansad@? Drenad@? Frustrad@?
  • Tenho-me alimentado e dormido bem? Porquê?
  • O que me traz o meu emprego de bom? E de mau?
  • Quem sou eu além dos meus papéis (filh@, amig@, profissional…)?
  • Em que momentos me sinto mais autêntic@?
  • O que me dá orgulho em mim mesm@?
  • O que me inspira?
  • Quais são os meus maiores medos? De onde eles vêm?
  • Os pensamentos que surgem são factos?
  • Existem pensamentos alternativos aos que me surgem?
  • Que conversa tenho andado a evitar? Comigo ou com alguém
  • E se me desse permissão para viver a minha vida, e aos outros permissão para pensarem o que quiserem a respeito dela?
  • Que mudança faria se não estivesse preocupad@ em ser julgad@?
  • O quê que tenho medo de admitir que quero?
  • Quando penso que não sou suficientemente bom… Para quem é que não sou?
  • Quando penso que não sou suficientemente inteligente… Na opinião de quem e baseado em quê?
  • Quando penso que os meus pais ou outros não vão aprovar… E depois?
  • Quando penso que posso ficar sem estabilidade financeira… E se parar para elaborar um plano ? E se correr mal, quais as minhas soluções ou quem poderá estar do meu lado para me ajudar? (a limpeza é importante antes para podermos ter a certeza de quem fica e faz sentido ao meu lado). E se perder tudo (tudo o quê?), confio que me consigo resolver seja de que forma for? Tenho medo de começar de novo? Ou tenho mais medo de ficar onde já estou?
  • Quando penso em terminar a(s) minha(s) relação(ões)… Qual o pior que pode acontecer? Consigo preparar-me para esse “pior”? Que coisas posso perder e que outras posso ganhar? Qual cenário me parece melhor para ser feliz, se puser de parte o medo de arriscar?
  • Em que momentos me sinto viv@ e conectad@?
  • O que me faz sorrir genuinamente?
  • O que me dá energia (e o que a suga)?
  • Sei descansar ou estou sempre ocupad@?
  • O que estou a tolerar há demasiado tempo que me faz infeliz?
  • O que me impede de viver a vida que desejo? Como posso por isso de lado ou gerir de outra forma? Deverei ser assim tão intransigente com o que acho que não posso mudar? Ou é mais simples do que penso?
  • Se eu continuar a ser e a fazer exatamente como estou hoje, onde estarei daqui a 5, 10 anos?

Em conclusão:

Questionar (tudo);

Autoconhecer (questionar-me, terapia, procurar quem és dentro para saber o que queres fora…);

Limpar (de pessoas, hábitos, rotinas, consumismo, que te afastam do que precisas e queres… Lembrar de limpar e preparar o terreno e criar espaço para algo melhor);

Agir (pequenas ou grandes mudanças) – pensar num lema ou frase de coragem e clareza e mantê-la presente; criação de novas experiências para descobrir que faz sentido para ti, se ainda não souberes; elaborar um ou mais planos, visualiza-los e tomar ação neles, seja gradual ou radical… sem exigência ou pressão, simplesmente liberdade. Lembrar que podes mudar de ideias as vezes que quiseres e precisares!


A verdade é que não és ensinado a comandar a tua própria vida, és ensinado a obedecer, seguir ordens, servir… e quando te dás conta disto, já é muito bom! Mas o que fazes com essa consciência depois? Ou te revoltas e abres as tuas asas ou continuas a conformar-te por segurança. Está tudo certo. É a tua vida e fazes dela o que quiseres! Mas… o que é segurança para ti? [Faz mesmo pausa para responderes a ti mesmo]

Para mim é ser o mais livre que puder.

Posso parecer revolucionária e demasiado intensa no que te estou a dizer mas foi mesmo para isso que aqui vim. Chama-me aquela vozinha desconfortável no teu ombro esquerdo… contudo, talvez precises de mim.

Eis o porquê de ser tão importante para ti desprenderes-te:

Já citei Manuel Clemente algumas vezes aqui hoje mas volto a fazê-lo:

“A vida é mesmo assim”

Banalizar a mediocridade, desconforto e a frustração, é primeiro passo para isso mesmo, para termos uma vida medíocre, desconfortável e frustrada. Acostumamo-nos à pedra que levamos no sapato e, à medida que caminhamos, cresce a probabilidade de ficarmos feridos. Tudo porque tivemos medo de ficar descalços ou de que nos vissem a meia prestes a romper-se. Assusta-me esta normalização do que não devia ser normal. Não acredito que seja suposto fazê-lo. Da mesma forma que não é suposto estar com alguém que já não amamos, desistir de procurar um trabalho melhor ou, pior ainda, partir do princípio de que não merecemos nada de bom. Não precisamos de continuar a alimentar a convicção de que a vida só serve para nos magoar, pois já é desafiante que chegue. O que é necessário é contrabalançar. Compensar com autoestima, amor-próprio e carinho pelas nossas falhas.

A vida não é “mesmo assim”. Esta é uma visão estreita, que nos aperta a esperança e estrangula o entusiasmo. Há sempre mais do que imaginamos, muito mais.

A questão é que tu não te sentes pronto porque a mudança é assustadora mas nasceste pronto. Mudaste a tua vida toda… e agora em adulto, tens o luxo de mudar da forma que quiseres: radical ou gradual. Mas não deixes de o fazer… ou a vida trata de o fazer por ti, duma maneira ou de outra. Não preferes criar a tua?

Deixo-te o pequeno grande desafio, sem querer colocar pressão na tua vida, pois não sei o que poderás estar a atravessar de momento, nem quero de maneira nenhuma encostar-te a uma parede ou fazer-te sentir que a tua vida não chega…

Não traduzas isto para “tens de encontrar o teu propósito”… pash! Essa palavra atormentou-me desde sempre… mas agora estou paz com ela. Tenho vários propósitos na verdade! A cada dia, a cada ano, a cada fase, a cada mudança… e sempre com o objectivo de ser feliz porque é para isso que cá estou.

Querid@ leitor@…

Com coragem

Vamos questionar

Vamos mudar fluindo

Vamos viver!

Nunca fiques onde já não estás. Nem sejas quem não és. A tua vida está a passar… É preciso calma mas é preciso alma.

Até breve


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